sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Se arrependimento matasse...


Subiu, respirou fundo...

Parando pra pensar, parece que foi ontem: 12 anos, avisou o pai que queria fazer balé. Meia dúzia de sopapos depois, tendo aprendido que filho de Edivaldo Pereira não toma parte nessas bichices, ficou decidido que faria judô, e fim de papo...

Terceiro ano, vestibular chegando, um futuro a ser decidido... Gostava de ensinar, blogueiro diletante, apaixonado por livros e por sua língua pátria. Pros amigos mais chegados nem era dúvida, mas que mãe hoje em dia quer ver o filho professor, já viu o salário de miséria que eles ganham menino de deus? Sonho não põe comida na mesa não... Estava acertado, Direito na primeira opção(tem que fazer concurso, conseguir sua estabilidade...) Administração na segunda e Letras na terceira...

A vista era linda, apesar da leve vertigem...

Sexto período, já praticamente um administrador, inteligente, ótimo partido, que o diga a namorada, amor que já vinha desde os tempos de colégio... Amor, mesmo? Bem, com certeza um grande carinho, mas esse aperto no coração, nunca tinha sentido igual, e tinha quase certeza que era recíproco. A Adriana ficaria magoada, mas entenderia... Grávida?! Seis anos de namoro, nunca tinha vacilado antes, e agora isso... Como vou deixá-la assim, e minhas obrigações de pai? O casamento com certeza foi uma bela festa, e a Sofia uma boa lembrança...

Canudo na mão, agora a vida adulta começava de verdade, na procura por um emprego. Apesar das ofertas de boas empresas, o foco fora desviado para um novo rumo: em uma ONG há muito conhecida surgia uma vaga na área administrativa, e com ela a oportunidade de converter seus conhecimentos em reais benefícios aos que o cercavam. Seus rendimentos não seriam os mesmos de seus amigos recém-formados, é claro, mas... Mas como assim meu amor? Logo você, com filho pra criar, uma casa pra sustentar, querendo mudar o mundo? A Sofia logo vai precisar de creche, você sabe que não é mais nenhum adolescente sonhador... Ainda que não houvesse a mesma emoção, o emprego na fábrica de clipes do tio de Adriana pagava as contas, e até tinha oportunidades de crescimento...

Pulou. Depois de ter feito tudo o que deveria fazer, sabia que era a única coisa que podia fazer.

Sentiu o vento no rosto, abriu os braços e sorriu: era novamente dono de si.